Meditação na Saúde

Mindfulness, a meditação da plena atenção e do insight, cuja origem se encontra na tradição budista, consiste no treinamento da faculdade mental da atenção, desenvolvendo-a pela prática da observação direta das experiências internas do corpo e da mente de maneira completamente consciente e sem julgamentos. Este treinamento, que envolve igualmente o desenvolvimento da faculdade mental da concentração, permite que a pessoa se posicione à certa distância dos enredos das formações mentais, observando momento-a-momento o corpo (em seus vários ângulos – como a respiração, batimentos cardíacos, sensações, etc.), as emoções e os pensamentos espontâneos do cérebro/mente.
Conforme resultados evidenciados nas referências científicas citadas em baixo (estado-da-arte), as práticas de Mindfulness consistem num treinamento para o desenvolvimento de uma percepção da realidade, progressivamente equânime ante às experiências das sensações e emoções associadas ao processamento consciente e inconsciente das informações percebidas pelas áreas sensitivas primárias, em áreas cerebrais mais complexas relacionadas à memória, emoções e padrões de comportamento, principalmente em situações em que este processamento leva o indivíduo a estados de desequilíbrio físico e psicológico.



Estado-da-Arte.
Nas últimas duas décadas, a prática psicoterapêutica acolheu muitos dos ensinamentos da espiritualidade oriental através das investigações de Ellen Langer em psicologia experimental e da introdução, por parte de Jon-Kabat-Zin (1982) da meditação budista na prática clínica. O resultado destas tendências foi a emergência do conceito de Mindfulness.

A atitude de mindfulness pode traduzir-se como atenção plena, mente alerta ou consciência plena e caracteriza-se por uma atenção ampla e tolerante à generalidade dos fenómenos conscientes, nomeadamente a cognições e sensações sem qualquer crítica ou juízo de valor.

Este processo é o oposto do fenómeno mindlessness (i.e. o funcionamento em "piloto automático" que pode contribuir para a rigidificação/incapacidade de mudar, tão característica das perturbações mentais.)

O conceito de mindfulness deu origem a protocolos terapêuticos e a novas aborgagens psicoterapêuticas. Em 1982, Kabat-Zinn demonstrou a sua eficácia no tratamento da dor crónica pós-cirúrgica, e em perturbações de ansiedade.

A terapia comportamental dialética (Linehan, 1987) resultou igualmente da integração deste conceito. Os princípios orientadores desta terapia pretendem levar a pessoa a aprender a aceitação das emoções e vivências originalmente classificadas como negativas como forma de potenciar mudanças mais profundas. Nesta terapia, mudança e aceitação funcionam como duas faces da mesma moeda.

Teasdale, Segal e Williams (1995), utilizando a prática de mindfulness, elaboraram um programa de prevenção de recaída para doentes deprimidos anteriormente tratados com a terapia cognitivo-comportamental. Os dados da investigação apoiam a eficácia terapêutica deste programa (c.f. Kingston et al., 2007).

Para além da aplicação do mindfulness à psicoterapia, esta abordagem tem sido usada em programas de redução de stress como é o mindfulness-based stress reduction (mbsr – programa de redução de stress baseado na mindfulness) desenvolvido no centro médico da universidade de Massachusetts. A avaliação dos resultados deste programa revelaram-se francamente positivos em problemas de saúde vários, dos quais se destaca a intervenção na psoríase (kabat-zinn et al., 1998).

Concluindo, a aplicação das práticas mindfulness está a ser cada vez mais investigada por parte da comunidade científica no sentido de perceber e comprovar os benefícios da mindfulness na saúde tomada na sua unicidade – física e psíquica.

Fonte: Vadenberghe, l & assunção, a.b. (2009). Concepções de mindfulness em Langer e kabat-zinn: um encontro da ciência ocidental com a espiritualidade oriental. Contextos clínicos, 2(2), 124-135.

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